domingo, 3 de novembro de 2024

SEM SPOILER - A SUBSTÂNCIA, DE CORALIE FARGEAT

 


Olá a Todos, 


O texto de hoje é dedicado ao filme de terror que recentemente chegou aos cinemas: A Substância de Coralie Fargeat. Uma cineasta estreante que nos leva a diversas reflexões com este seu novo filme. Desde já aviso que este texto não vai conter nenhum spoiler do filme. Antes de mais tenho que enaltecer a coragem de Coralie Fargeat de abordar um tema tão profundo e necessário desta forma tão brutal. Para quem não sabe, A Substância fala sobre envelhecimento, a obsessão pela juventude e pela beleza. Demi Moore é Elisabeth Sparkle, uma estrela de Hollywood que fez muito sucesso no passado mas que agora apresenta um programa de aeróbica. Até que a certa altura, Elisabeth ouve uma conversa telefónica do produtor do programa Harvey (Dennis Quaid) em que este a insulta e a chama de “velha” e diz com todas as letras que têm de a substituir por alguém mais jovem. Elisabeth fica arrasada e durante o regresso a casa tem um acidente. Acidente esse que muda para sempre a sua vida e durante a sua estadia no hospital um jovem enfermeiro oferece-lhe uma pen e assim Elisabeth vai à procura da Substância. 

A partir daqui vemos uma luta interior profunda e perturbadora de Elisabeth e do seu novo “eu” mais jovem, Sue ( Margaret Qualley). Para os amantes do terror, este filme é um prato cheio de cenas altamente perturbadoras e efeitos especiais incríveis. Do início ao fim, Coralie explora ao extremo a obsessão pela beleza, as mudanças que acontecem em Elisabeth, os seus medos e as suas fragilidades são expostas ao máximo. Demi Moore e Margaret Qualley estão absolutamente fantásticas. É difícil falar deste filme sem dar spoilers mas ele é extremamente perturbador. A cineasta faz planos muito interessantes, opta por soluções muito criativas e que conversam bem com a narrativa proposta. Não é só isso que impressiona, são os próprios cenários e a estética escolhida que também nos ajudam a entrar na atmosfera do filme. O apartamento de Elisabeth que nos apresenta um ambiente minimalista e com cores escuras para depois nos transportar para uma casa de banho completamente diferente do resto das divisões da casa. Os Estúdios onde é gravado o seu programa apresenta uma estética com cores muito vivas, que chamam bastante a atenção do olhar do espectador e tudo isso ajuda a compreender toda a ideia e concepção. É verdadeiramente impressionante o quanto a realizadora aposta nos detalhes, não só dos próprios cenários como também dos actores. Em oposição a esse ideal de beleza imposto pelo audiovisual, temos um produtor e os acionistas do canal de televisão que estão longe de corresponder a esse ideal físico e que já têm uma certa idade. Não vemos em nenhum momento um acionista jovem e creio que isso foi intencional. Nada escapa a Coralie e isso é absolutamente fantástico.

Vivemos num mundo cada vez mais “obcecado” por essa perfeição, por corpos jovens e sem rugas que vem de uma cobrança de Hollywood, da televisão, da moda e da publicidade. Essa cobrança pela juventude eterna que entretanto com o surgimento das redes sociais ficou cada vez mais evidente . Acredito que quanto mais se falar dos perigos dos procedimentos estéticos mais as pessoas vão tomar consciência que não há “substância” que faça reverter algo que é natural no ser humano: o envelhecimento. E até isso, é levado ao extremo neste filme. Penso que a determinada altura se torna até excessivo o tanto que a cineasta recorre a cenas perturbadoras, principalmente no final. Mas também entendo a necessidade. A Substância é um filme que merece ser visto.


Até ao próximo post.


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