Olá a Todos,
Hoje venho falar desta primeira temporada de “A Promessa” que encerrou ontem. A adaptação portuguesa de Zalim Istambul escrita por Cândida Ribeiro e Inês Gomes prometeu ser “um novelão à antiga” e aparentemente tinha tudo para o ser mas infelizmente falhou. Existem vários factores a considerar, e alguns até já referi no primeiro texto que fiz sobre a novela. Confesso que esperava algo muito melhor do que o nos foi apresentado. Bem sei que por se tratar de uma adaptação existe um compromisso de manter a história central o que faz todo o sentido em respeito ao original. Com o crescimento do consumo por parte dos telespectadores de séries turcas, A SIC apostou na adaptação de Zalim Istambul que fez muito sucesso e com todo o mérito, mas há questões a levantar. A realidade portuguesa é completamente diferente e certas situações levaram-me a questionar se esta trama faria sentido como referi no primeiro texto que fiz. Mas muita coisa mudou desde as primeiras semanas de exibição e na minha opinião para pior. Para facilitar a leitura, vou dividir este texto em Erros e Acertos e fazer uma análise do último episódio.
ERROS:
A CONSTANTE “CEGUEIRA” DE ANTÓNIO EM RELAÇÃO A HELENA:
No inicio da história, António está focado na recuperação de Miguel. Laura fica a cuidar dele como enfermeira e divide essa tarefa como Helena e Isaura. Até ai tudo bem. Percebemos que Helena faz de tudo para Miguel não recuperar, drogando-o. António não desconfia de nada. Até ai tudo bem. O problema é que António foi cego em relação á mulher mais de 100 episódios. Entre camaras de vigilância, zangas com Laura e Tomás etc etc, António nunca deixou de confiar em Helena. Até há pouco em que António finalmente percebeu que Laura tinha razão e então resolve tirar Miguel da mansão. Esta cegueira constante em relação a Helena impediu o personagem de José Wallenstein de crescer mais na trama. A máscara de Helena já podia ter caído há muito tempo. Não era necessário chegarmos ao fim da 1 temporada e só agora o personagem começar a abrir os olhos.
HELENA E AS SUAS SERINGAS
Não sei em relação ao sentimento dos restantes telespectadores, mas eu particularmente acho redutor esta questão das seringas para uma vilã. Este recurso das seringas já foi utilizado pela autora Glória Perez em Salve Jorge ( em Portugal, A Guerreira) com a vilã Lívia Marini de Cláudia Raia que traficava jovens mulheres para ( curiosamente) a Turquia. Este recurso não resultou na vilã de Cláudia e não está a resultar com Ana Padrão. A actriz não merecia uma personagem destas. Helena é vilã sim, mas torna-se chata esta constante obsessão de Helena por Miguel. Tudo o que Helena faz de mal é relacionado a Miguel. Ela não poderia cometer outros crimes?. Helena está constantemente a dizer que é perigosa e para não se meterem com ela, mas e daí? A maldade de Helena fica reduzida ao sobrinho? Não se entende.
VERÓNICA E O CASAMENTO
Verónica sempre quis ser uma menina rica e viver com tudo do bom e do melhor. Até aí tudo bem. Para isso, precisaria seduzir um dos rapazes. Escolheu Tomás. Seduziu-o porém a “sogra” faz um vídeo em que claramente se vê que a jovem está sem reação (mas ninguém repara nisso) e é chantageada e obrigada a casar com Miguel. Ora bastaria Verónica chantagear Helena e Tomás ao descobrir o segredo dos dois, incluindo que Helena droga Miguel por causa disso e teria Helena nas mãos dela. Mas não, Verónica casa com Miguel, maltrata-o ( como se ninguém tivesse já reparado que a jovem não gosta dele) e isso surpreende toda a gente. É outra coisa que não se entende.
PERSONAGENS DO MERCADO
O Mercado funciona um pouco como um alívio cómico da trama. Sempre que existe um núcleo deste género, a comédia é o ponto central. Não há problema nenhum em inserir um núcleo cómico. As personagens do mercado tornam-se pouco cativantes e ás vezes chatas. Têm pouca trama, e as situações que se criam são todas sustentadas pela Familia Pimenta que é a única coisa que faz sentido no mercado. Samuel (Rui Unas) é um personagem que começa por ter muitas dificuldades em vender o seu Sushi porque os preços são excessivamente elevados e mesmo com Quim (Adriano Luz) chamando a atenção para a má gestão do Sushiman, ele continua irredutível. Descobre a traição de Isabel ( Diana Marquês Guerra) e passa a infernizar-lhe a vida ao ponto de prejudicar Xavier (Jorge Corrula) no seu negócio de enchidos. Depois desapareceu completamente. Limita-se a ajudar Sónia e o filho desta. Xavier e Isabel por sinal são outro problema. Jorge Corrula e Diana Marquês Guerra formam o casal mais chato da novela. Com todo o respeito pelos dois que são excelentes profissionais, mas não resulta. Os dois mereciam melhor, na minha opinião. Rogério está também há 100 episódios a tentar reconquistar Elsa e só se mete em situações absurdas e o personagem não passa disso.
FIGURAÇÕES DE LUXOAinda dentro do núcleo do mercado, não sei quem teve a ideia, não sei se foi por incompatibilidade de agenda, ou outro motivo qualquer mas acho inadmissível e desrespeitoso colocar Maria Simões e Paula Marcelo a fazer “figuração de luxo”. Lídia e Odete só aparecem como clientes do mercado em situações pontuais. É uma pena. Gostaria que as duas tivessem mais destaque. Seria muito bom para o enredo do mercado.
ACERTOS:
JOÃO CATARRÉ COMO MIGUEL:O destaque maior desta novela é sem dúvida João Catarré. Está fantástico na pele de Miguel. Arrisco a dizer que é um dos maiores papéis da sua carreira mas que poderia ser melhor não fosse a questão das drogas. Embora isso tenha proporcionado boas cenas com Ana Padrão, não se justifica tanto tempo nisso. Outro acerto foi a relação de Miguel e Laura, os dois fazem um casal fantástico. Vitória Guerra está optima como Laura e nas cenas junto a João melhor ainda. Os dois construíram uma boa cumplicidade Merece todos os prémios.
2 . A TRISTE REALIDADE DE SÓNIA
Sónia é das melhores personagens desta trama. Joana Pais de Brito está fantástica e ainda bem que a pudemos ver num tom mais dramático. Joana é brilhante na comédia mas no drama está fabulosa. Espero que tenha mais oportunidades. A relação com o pequeno Santiago André também é fantástica. Infelizmente a sua trama é a realidade de muita gente actualmente em Portugal e está a ser representada com muita maestria por Joana. É um dos maiores acertos desta novela.
3. A RELAÇÃO DE MARIA E ANTÓNIO
Se eu escrevesse este texto semanas atrás iria perguntar qual era a necessidade de desperdiçar o talento de uma actriz do calibre de Sofia Alves numa personagem que se limita a fazer orações, a servir os patrões e a discutir com a família. Finalmente vemos uma mudança na personagem através do desenvolvimento dos seus sentimentos por António. É pena que a relação não tenha avançado mais até agora, sinto que já poderia haver uma aproximação maior dos dois até porque Helena já percebeu que existe um clima entre os dois e foi precisamente isso que fez Maria crescer mais na trama. Os embates entre as duas foram bastante interessantes e podiam ter desenvolvido mais este triângulo amoroso.Espero ver isso na 2 temporada. Sofia Alves está fantástica na pele de Maria, teve cenas fantásticas onde demonstrou com maestria o desespero da sua personagem com todos os problemas que a família lhe cria. Contudo, uma coisa que eu achei um pouco decepcionante é o segredo que Maria carregou consigo até agora. Esperava algo mais impactante do que a personagem saber que o marido está vivo. Podiam ter escolhido outro segredo como ela ser uma falsa beata, ter cometido um crime, ter uma vida dupla ou ela ser na verdade uma grande vilã. Resta-nos ver o que o nos reserva o aparecimento de Luís (Pepê Rapazote) na trama e qual será a reacção de Maria ao reencontrá-lo.
ÚLTIMO EPISÓDIO:
Não sei se por já ter visto muitas novelas estou a tornar-me demasiado exigente mas eu achei este último episódio muito fraco. Não houve reviravolta nenhuma que desse um bom gancho para a segunda temporada. O facto de Olga (Soraia Chaves) revelar todo o seu plano maléfico para destruir os Fontes Morais talvez tenha sido o mais interessante e mesmo assim, isso já tinha sido revelado pela imprensa. Todo o resto, ficou para a segunda temporada. Esperava bem mais do que simplesmente a revelação de Olga ser a autora das ameaças à família. Outra coisa que na minha cabeça não faz o menor sentido é Maria tirar Verónica de Lisboa com o motivo de tentar que a filha tenha um rumo e se torne uma pessoa melhor e mais responsável. Isto é completamente absurdo. Foi um final de temporada quanto a mim bastante fraco e morno. Os restantes personagens também nada mudou. Tudo ficou na mesma. Achei decepcionante.
Até ao próximo post.