Globos de Ouro: As Nomeações e as Polémicas

Olá a todos, 

Esta semana foi conhecida a lista de nomeados da 28a Edição dos Globos de Ouro da SIC. Todos sabemos que ao longo dos anos a SIC vem a ser alvo de críticas a respeito dos nomeados e da própria cerimónia em si. A SIC sempre afirmou que os Globos de Ouro englobam todas as estações e todos os seus profissionais podem ter a oportunidade de ganhar mas com o passar dos anos provou-se que existe sempre um favoritismo quanto aos produtos e aos profissionais da estação. Penso que ninguem iria criticar a estação por organizar uma cerimónia de entrega de prémios para prestigiar apenas os seus profissionais. 

Porém, sendo estes prémios destinados a todos os profissionais de televisão não se entende certas decisões da estação ao sistematicamente ignorar as produções da concorrência, em especial da TVI. Este ano na categoria “Melhor projecto de Ficção” temos nomeados 2 produções da RTP: Codex 632 e a Matilha, A novela da SIC “Senhora do Mar” , Lúcia da OPTO e a série da Netflix “Rabo de Peixe”. Nada tenho a dizer a respeito destas nomeações, embora Senhora do Mar não seja propriamente um novelão, ainda cumpre. Confesso que acho injusto séries concorrerem junto com novelas, são formatos completamente diferentes. A SIC cometeu um erro enorme ao juntar a novela ás séries. Não faz sentido nenhum. Deveriam separar séries de novelas assim como os seus actores. Seria mais justo para todos. Considerando o facto de tudo isto não ser propriamente novidade, é um escândalo a SIC ignorar por completo a melhor novela de 2024. Refiro-me a Cacau. É de longe a Melhor novela do Ano (pelo menos até agora e irei voltar a falar de Cacau em breve). E não só o projecto em si foi ignorado como também os seus actores foram ignorados. 

 É sabido por todos nós que existem conflitos entre as respectivas direcções de entretenimento chefiadas por Cristina Ferreira e Daniel Oliveira mas isso não pode ser motivo para ignorar bons projectos de ficção. Penso que é uma questão de justiça. Existe também a categoria de Teatro onde pude constatar que a SIC se esqueceu de muitas produções teatrais, por exemplo o musical Laura de Filipe la féria que tem sido um grande êxito e que conta a trajetória profissional de Laura Alves, uma das maiores atrizes do nosso país. Como protagonista, Filipe la féria escolheu Sisi Martins para dar vida á icónica actriz. O que aconteceu? Sisi Martins foi esquecida. Não se entende esta situação, visto que em 2023 a SIC resolveu homenagear o encenador com o prémio Mérito e Excelência.

São estes sucessivos erros que prejudicam a credibilidade dos Globos de Ouro, num país que reconhece pouco os seus artistas e profissionais do espectáculo, o mínimo era assegurar a qualidade e o prestígio destes prémios. Aliás, os prémios de Televisão desapareceram por completo, dos poucos que haviam as revistas e as televisões simplesmente não deram continuidade. Os únicos que vão mantendo este tipo de iniciativas são os sites dedicados á Televisão, que têm todo o mérito mas é insuficiente. Acho que a comunicação social e as televisões deveriam pensar seriamente em trazer mais prémios e mais homenagens. Bem sei que o maior prémio para um artista é o seu público mas não nos pudemos esquecer de que estas pessoas merecem ser reconhecidas pelo seu talento e de preferência em vida. Se nas empresas existe reconhecimento e recompensas para os funcionários, porque é que no meio artístico é diferente?. Não se entende. 

Até ao próximo post. 

Influenciadores Digitais ou Actores Profissionais? Eis a questão.

 Olá a Todos, 

Há dias estava eu nas redes sociais, quando me deparo com uma publicação de um fã clube de uma dessas influencers com milhões de seguidores onde uma pessoa reclamava que deveriam chamar a dita influencer para participar num remake da TV Globo em vez da brilhante Fernanda Torres, filha de Fernanda Montenegro. Quando li um absurdo destes, nem quis acreditar que fosse verdade. Mas infelizmente, é. Mais tarde, um outro perfil da dita rede social informou-me que se tratava de uma piada. Entendi, mas achei ridícula. Foi esta situação que me chamou a atenção para algo que tem vindo a ser falado ao longo dos anos e que volta a ganhar força: Faz realmente sentido chamar Influenciadores/ Criadores de conteúdo digital para integrar o elenco de um projecto audiovisual?. E faz sentido também desvalorizar quem tem anos de carreira?. É esta a reflexão que trago hoje. 

Há muitos anos atrás, começaram a chamar modelos para integrar elencos de novelas e séries e isso gerou uma polémica imensa. Os modelos foram criticados, tiveram que trabalhar muito para poder se desfazer dessa imagem de modelo para serem actores. A verdade é que alguns até conseguiram seguir carreira mas para isso largaram as passarelas. Foi uma escolha. Essas pessoas conseguiram um espaço na televisão e alguns chegaram a se destacar em algumas produções. Hoje em dia, fala-se muito dos influenciadores/ criadores de conteúdo digital ocuparem o espaço de actores que passaram anos a estudar ou até mesmo dos mais experientes. Não estou com isto a dizer que os Influenciadores/Criadores de Conteúdo não possam revelar-se actores de verdade, mas isso exige deles um esforço redobrado que penso que alguns deles não estarão dispostos a fazer. O facto de criar conteúdo digital não faz destes influenciadores profissionais da arte de representar, faz deles bons comunicadores. O facto das televisões cederem demasiado espaço a estas pessoas cria diversos problemas à classe artística. 

  O que realmente importa: Ter uma boa história e profissionais de excelência ou caras bonitas e jovens que criam conteúdos para a internet com milhões de seguidores para chamar a atenção das marcas?. Penso que isso tem que ser bem avaliado pelas televisões. Não acho razoável esta situação e muito menos o facto de dar mais tempo de antena a estas pessoas e tornar os actores mais experientes em figurantes de luxo.É bom que não nos esqueçamos que estas pessoas com anos e anos de carreira, se esforçaram e lutaram muito para chegar onde chegaram ainda mais porque estamos a falar de um país pequeno, cujos governos sistematicamente se esquecem da cultura e os seus profissionais são obrigados a procurar patrocínios de empresas que estejam dispostas a associar o seu nome aos projectos. Portugal tem uma classe artística pequena comparado com outros países mas isso não significa que seja fácil sobreviver, antes pelo contrário. 

 A juventude é necessária para que a profissão continue e para que se formem novos profissionais de excelência, mas não se pode cair no erro de aceitar qualquer um.

O público não é idiota, sabe muito bem distinguir um bom profissional de um mau profissional. Inclusive, esta semana foi a vez da actriz brasileira Cláudia Abreu falar sobre o assunto e passo a citar: "O tempo vai dar conta disso. Eu acho que isso é um fenômeno atual e não acho que vai durar. Porque eu acho que a arte é muito forte e ela resiste. Eu fico muito tranquila!. Eu não faço qualquer coisa para ter seguidores, achando que isso vai me trazer trabalho e que eu preciso desesperadamente deixar de ser eu mesma e fazer coisas que eu não faria para ganhar seguidores. Porque eu acho assim: sempre vão precisar de bons atores. Isso vai acontecer naturalmente”. E eu concordo com esta afirmação, creio mesmo que será um fenômeno passageiro mas ao mesmo tempo questiono-me: Até que ponto é que é aceitável?. Mesmo em termos “éticos”, dizer a um influenciador que tem talento para ser actor quando na realidade não tem é algo positivo?. Não será melhor dizer logo a verdade á pessoa em vez de a iludir com promessas?. Fica aqui a questão. 

Até ao Próximo post.